A gente se acostumou com tudo na ponta do dedo, pra ontem! E essa rapidez toda me deixou doente. Tava na hora de desconectar.

Ah, a internet! Essa benção que disponibiliza informação ao nosso alcance a qualquer hora. Que aproxima pessoas, torna trabalhos mais produtivos e conexões mais intensas. Tem de tudo ali, na nossa mão, em questão de segundos: a pessoa que amamos, a pesquisa de um projeto, os recursos para um conteúdo, infinitas opções de entretenimento e até os nossos bancos.

A gente se acostumou com tudo na ponta do dedo, pra ontem! E essa rapidez toda me deixou doente. Tava na hora de desconectar.

Chegamos num momento cultural em que não aceitamos bem a demora. Se um site não carrega em 10 segundos, você fecha a aba. Se o email não é respondido na mesma hora, o chefe chama na mesa. Se a mensagem não é respondida no mesmo dia, todo um fluxo de ansiedade é desencadeado. Acontece que a falta de resposta pode ser, sim, uma resposta. E que nem sempre essa resposta é sobre você.

Na ausência digital, somos bombardeados de passivo-agressividade quando, na real, ninguém tem o interesse real naquilo que acontece com você fora da tela. O “oi, sumida” vem recheado de pressupostos, quando você só precisava de um tempo.

E nesse tempo, o mundo continua rodando. As engrenagens da nossa sociedade digital não param pra sua saúde mental, more.

Eu cresci em uma cidade litorânea pequena e tive acesso ao meu primeiro computador quando tava me formando no ensino médio. Enquanto todos os meus amigos já estavam no ICQ e MSN, eu fazia meus trabalhos da escola com enciclopédias.

Troquei cartas com as minhas amigas que moravam longe e muitas fanfics por correio até os meus 18 anos. Se eu queria brincar na rua, em uma era sem TikTok, eu ia até o portão dos amigos para saber se queriam fazer algo. O algo? Jogo de tabuleiro, andar de skate ou praticar algum esporte.

Em 1999, tecnologia pra mim era o Tamagochi, que apitava quando queria comer.

Então eu descobri a internet e tudo aconteceu numa velocidade assustadora: no meu primeiro ano, eu já tinha um blog zip.net e fazia meus próprios layouts no paint. Logo depois, eu já tava no Orkut aceitando depoimentos com scrap. Praticava inglês no MSN com amigos gringos e jogava Ragnarok com os colegas de outras cidades.

E com toda essa rapidez – para a qual eu certamente não estava preparada – chegou o medo da rejeição, a ansiedade de obter tudo na hora, a vontade de participar de tudo e estar em todos os lugares ao mesmo tempo.

Já ouviu falar de FOMO?

Eu fui uma pessoa totalmente conectada por muitos anos, antenada em todas as novidades e ferramentas digitais, que respondia todos os emails na mesma hora e estava sempre disponível… até 2016.

Acontece que eu me mudei para a Coreia em 2016. Num piscar de olhos, toda a vida que acontece fora da internet consumiu a minha pouca inteligência emocional. Eu precisava me virar num país novo, aprender um novo idioma, aprender a usar o transporte público, a lidar com as pessoas, a entender o que elas esperavam de mim. Tive que construir novos relacionamentos e círculos sociais, tive que entender como funciona a cultura local e tive que lidar com uma síndrome do pânico que existiu em mim por anos enquanto morava no Brasil.

Foi quando eu descobri que não dava pra fazer tudo isso e ainda estar presente na internet o tempo todo, como eu sempre fui.

Decidi priorizar a minha saúde mental, estipular limites e desconectar um pouquinho. Parece o plot de um episódio de Black Mirror, mas eu consegui.

Veja bem, agora eu estipulo horários para a conexão.

Priorizo as mensagens que vão direto ao ponto, já que consigo responder com mais agilidade. Entenda que eu não sou ninguém na fila do pão para chegar aqui, no meu espaço digital, dizendo que “filtro” as minhas DM’s. Mas eu estou em outro fuso e acabo levando 5 dias só pra finalizar um diálogo básico com o famoso “oi, tudo bem?” e isso é muito cansativo pra mim.

Também deixo para responder as pessoas em horários quando minha atenção está livre, como quando estou no metrô, para dedicar total atenção à conversa. Se é pra responder meia boca, eu nem abro o chat, sabe?

Pra minha sorte, sou rodeada de pessoas que entendem a minha ausência e respeitam o meu tempo. Mas também tem muita gente que acaba levando na pessoal e demandando atenção. Eu costumava me culpar com essa atitude, mas hoje entendo que, para algumas pessoas, atenção equivale a afeição. E aceito o risco de soar egoísta ao não entregar a atenção constante que me demandam.

Para mim, que vivo distante de todos que amo, presença não significa amor. Aprendi a demonstrar e receber amor de outras formas.

Mas eu só queria relembrar que nem sempre é sobre você, sabe?

No meu caso, é sobre balancear rotina e uma cabeça cheia de ansiedade 24h por dia. Não estar presente em aplicativos de mensagem não quer dizer que eu me importo menos ou que te esqueci. Só quer dizer que eu preciso de silêncio e espaço para organizar as ideias. E se você me conhece bem, e sabe por tudo que eu passei ao longo dos anos, vai entender.

E pra quem está sofrendo para digerir tanta informação em tempos de conexão, eu deixo um recado cheio de carinho: priorize seu tempo e sua saúde – e se precisar desconectar um pouquinho, tá tudo bem. Quem (se) importa, fica.

E não sei se já ouviu isso hoje, mas você tá indo muito bem.

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