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Eu terminei esse livro agora, devorei em 2 dias e já dou um spoiler: a última vez que me senti tão agoniada lendo um livro foi durante meu mergulho no mundo de Anne Frank. Os dois livros tem uma temática em comum: opressão. E quando você termina de ler Para Poder Viver chora de gratidão pelo seu bem mais precioso – e que esquece de valorizar: a liberdade.

Para alguns, ela custa muito caro e é uma jornada longa e torturante. No caso de Yeonmi Park, ela narrou toda essa jornada em um livro.

Yeonmi Park é uma desertora norte-coreana e nesse livro ela conta 3 etapas importantes de sua vida: a infância na Coreia do Norte, sua fuga pela China e sua liberdade na Coreia do Sul. Mas isso não é nenhum spoiler: se não tivesse alcançado a liberdade, nunca teria publicado esse livro.

Já aviso que ele é um pouco difícil de digerir se você, como eu, vive se colocando no lugar dos outros e se questionando o que faria na mesma situação. Acho que eu não teria suportado nem metade do que ela suportou, com menos de 15 anos de idade. Confesso que me questionei inúmeras vezes sobre a veracidade dos relatos. Na minha cabeça, é impossível que alguém tenha passado por TUDO que essa mulher passou – e ela é 5 anos mais nova do que eu! Mas isso vem de uma pessoa privilegiada como eu. E esse livro narra a vida de uma garota que nasceu e cresceu sem privilégios.

Lógico que ela teve fortes sequelas psicológicas, mas eu não saberia lidar. Hoje ela é ativista de direitos humanos e porta voz do povo norte coreano – além de auxiliar desertores a se reintegrarem.

Nesse livro você tem uma aula profunda sobre a vida na Coreia do Norte. Se você é do tipo curioso sobre o país, vale cada segundo investido na leitura. Você aprende sobre a propaganda, como o sistema teve influência soviética, sobre a fome, sobre a hierarquia da sociedade e sobre o mercado negro.

Além disso, participa da vida da autora como se estivesse lá: te dá frio, fome, ânsia, medo.

Quando ela narra sua fuga pela China – e então você acha que a coisa vai ficar boa – você descobre que a China não é nada amigável com desertores e que há tráfico humano de mulheres norte coreanas. É uma parte torturante da história e é fascinante como Yeonmi luta pela sua vida, no auge dos seus 13 anos.

E quando ela finalmente consegue alcançar a tão sonhada liberdade, se vê diante de um mundo que não conhece e nunca teve acesso.

Imagina que uma pessoa que nunca teve nada se encontrar em um lugar avançado, democrático, onde todo mundo tem tudo (e você, bem, você ainda não)?

Além disso, tem que lidar com dificuldades de idioma, com o preconceito dos jovens, com o sistema educacional competitivo. O que ela esperava ser o paraíso se tornou um lugar onde era obrigada a fazer escolhas o tempo todo.

A liberdade é assustadora.

Eu aprendi muito mais nesses 2 dias de leitura intensa do que em muitos documentários políticos sobre a Coreia do Norte. Eu sabia sobre a opressão, mas não imaginava a profundidade de alienação e medo.

O próximo livro da lista é A Revolução dos Bichos, de George Orwell. Você já leu?

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