sernaiotto-reflexao-dos-30.jpeg

Eu acabei de fazer 29 anos, gente. Envelhecer nunca foi uma preocupação, sempre achei que faz parte do fluxo natural das coisas (e faz mesmo). Até que eu me dei conta que aqui na Coreia do Sul eu já tenho 30 anos: quando um coreano me pergunta “quantos anos você tem?” a resposta tem que ser trinta. Na Coreia você tem um ano a mais, é um pouco complicado, mas você acaba se acostumando. Mas o que interessa nesse momento é que a ficha caiu: caramba, eu tenho 30 anos.

Quando eu tinha 15, eu imaginava que uma pessoa de 30 soubesse o que está fazendo da vida. Admirava os adultos com toda a sua sabedoria, seu foco e sua determinação: wow, não vejo a hora de chegar aos 30 e descobrir tudo o que a vida vai me proporcionar.

Acontece que a vida não proporciona bulhufas, não é mesmo? É a gente quem escolhe, a gente quem planeja – e se tem uma coisinha que eu aprendi nesses 30 anos de vida é que nada sai como o planejado. Eu me desesperava com isso até pouco tempo atrás. Os planos, as mudanças, OH MEU DEUS ALGUÉM PARE ESSE TREM DESCARRILHADO QUE É VIVER. 

Hoje eu tô vivendo um dia por vez. Estabelecendo metas pequenas, passinhos leves, para concluir até o fim do dia. O dia seguinte? A gente decide de manhã. E se aquilo que a gente planejou no começo do mês não rolar, tudo bem: a gente tenta no próximo.


Eu já vivi com pânico de muitas coisas, com ansiedade sobre o amanhã e com depressão diante das expectativas que eu nunca alcancei. Meus padrões são altos: eu sempre quero alcançar todos os meus desejos com maestria e nunca soube lidar com os meus limites e impossibilidades.

Como assim eu não sei editar um vídeo? Como assim eu ainda não descobri como administrar minha grana? Como assim eu precisei pausar todos os meus planos para tomar um medicamento pesado que me fez dormir de 2009 até 2011? Como assim eu não publiquei o meu livro ainda? 

Sempre me cobrei e nunca percebi que todo esse tempo que eu gastava analisando em excesso, cobrando em excesso, chorando em excesso, eu poderia investir em uma coisa: fazendo. E isso não quer dizer necessariamente criando, evoluindo, estudando, produzindo. Eu poderia estar fazendo algo pela minha saúde mental, por mim mesma. Eu poderia estar aprendendo um novo hobby. Eu poderia estar conhecendo novos lugares dentro da minha própria cidade. Eu poderia estar cuidando de mim e da minha alimentação. Eu poderia ter começado pole dance, yoga ou aprendido a meditar. Eu poderia estar apenas descansando, me medicando e aceitando o meu quadro, sem me cobrar sobre tudo o que estava acontecendo.

Mas veja bem, o que eu estou fazendo nesse exato momento é a mesma coisa que sempre fiz: questionar o que fiz ou deixei de fazer. Vamos parar com isso, né? Vamos focar no tempo que temos e como podemos aproveitá-lo da melhor forma. Com a gente mesmo e com quem amamos.

Aliás, eu sempre tive medo de ficar comigo mesma – e aprendi que eu posso ser a minha melhor companhia. Quando estou sozinha eu usufruo tanto de mim! Reflito, aprendo, produzo, descanso. Tudo fora de uma rotina que eu sempre senti que me prendia. Eu ando seguindo o momento e tentando não me preocupar demais sobre todas as coisas: e tem funcionado, aos pouquinhos.

Eu acho que os 30 não me trouxeram uma crise. Essa crise, eu já tive aos 23 – quando duvidei de mim e questionei tudo. Os 30 me trouxeram equilíbrio e prioridades: agora eu respeito meu tempo, meus esforços e respeito principalmente as minhas crises. Aprendo todos os dias comigo mesma. E nunca me senti tão alerta sobre mim.

Também aprendi a valorizar as pessoas (e eu sempre tive medo delas). Aprendi a aceitar mais e aprendi a me impor, coisa que eu sempre tive pavor de fazer. Eu evitava pessoas pois não sabia confiar, não sabia negar, não sabia receber. Hoje, tento receber as pessoas com mais abertura, mas sei dizer não quando eu preciso. E vou confessar: tô bem orgulhosa de mim por isso.


Esse balanço que fiz agora é uma prova para mim mesma, em forma escrita, que eu consegui. E se eu consegui, você também consegue, todos nós conseguimos. Continuo com medos e ansiedades, continuo sem saber o que fazer com a minha vida. Mas encontrei um equilíbrio que me permite viver em paz comigo mesma, todos os dias. Que me permite respeitar minhas crises e conviver com meus monstros. Que me permite vivenciar tudo que eu tenho que vivenciar: as alegrias, as tristezas, as conquistas, as dores, sem me apressar.

Uma dica que eu deixo? UM DIA POR VEZ. O futuro é incerto e só vai depender de tudo aquilo que você viveu hoje.

E fica a pergunta: você viveu hoje? PS – se não viveu, tá tudo bem. Amanhã está ai pra você recomeçar, sempre. FORÇA!

Imagem: Shuttertosck / Gifs: Emma Darvick

Categorized in:

Tagged in:

,